O Medo de Conhecer

Conhecer é o desejo mais  pulsante do homem.

Aristóteles, o sábio grego, ensinava que ‘O homem deseja ardentemente conhecer’. Para ele, conhecer é vocação humana. Entretanto, podemos afirmar mais. Devemos reconhecer que o concurso do conhecimento é imprescindível à atuação humana  sobre a realidade para adequá-la aos requisitos da sobrevivência.

E esse caráter indispensável do conhecimento proporciona indizível satisfação aos seus detentores e os torna admirados nas diversas áreas de atuação.

Quando adicionamos conhecimentos ao que sabemos, seja pela pesquisa, compreensão súbita, reflexão criteriosa ou por outro método de apreensão, nos sentimos mais completos. E esse sentimento de maior completude é que nos faz experimentar o senso de valor pessoal.

A satisfação sentida no ato de conhecer foi imortalizada no júbilo de Arquimedes, matemático nascido em Siracusa, que correu nu pela cidade, ao realizar descobertas sobre os fenômenos dos fluidos em geral. Ele bradou a palavra Eureka no momento do insight que virou a própria expressão do prazer de conhecer.

Há, contudo, uma situação paradoxal em relação à busca do conhecimento. Explico. Mesmo diante das vantagens do conhecimento, buscá-lo tem desafios que às vezes, nos levam a desistir.

Aprender, lançar-se à busca do conhecer, não raro, traz ansiedade e angústia. Sensações que podem gerar defesas e aversão ao esforço de aprendizagem. É o chamado paradoxo do conhecimento ou sentimento de que aprender exige revisão de todo um sistema de crenças.

Há mesmo um velho ditado que diz: ‘Quanto mais se sabe maior a inquietação’. E, de fato, quem há de negar que quando ignoramos algo, afastamos de nós, as angústias, dúvidas e indecisões que o domínio da nova informação talvez nos traga?

Assim, vivemos constantemente em meio ao paradoxo envolto no ato de conhecer, pois ao tempo em que o conhecimento nos atrai também nos assusta mergulhar no caráter de grandeza que o envolve.

Um antídoto para a inércia própria desse estado é pensar que a busca do conhecimento é a própria busca da autorrealização, da completude possível. Nessa tarefa de superação do imobilismo, a experiência dos grandes mestres do pensamento pode ser decisiva.

Bacon, Hobbes, Pascal, Kant, Freud e Marx, por exemplo, podem ser inspiração, pois foram divulgadores do valor do conhecimento para a grandeza humana, pela superação das limitações impostas à ação não esclarecida. Foram, portanto, produtores de ideias que mudaram a compreensão do que seja produzir novas ideias.

Permanecendo apenas no mundo dos mortais, entretanto, é útil lembrar que buscar o conhecimento já é em si conhecer.

Publicado por

Liduina Benigno

Psicóloga, escritora. Parte de inquietações comuns sobre formação profissional e autoaperfeiçoamento humano.

3 comentários em “O Medo de Conhecer”

  1. Liduína, querida, o texto está perfeito como já é praxe vindo de você. Achei a imagem linda também. Vc fervilha hein!? Ainda produz textos para o blog, além do livro sobre a produção de Rubem Braga… Quanta energia tem essa mulher!
    Um abraço! Espero que vc e os seus estejam bem nesse momento tão difícil que às vezes me parece que não vai passar…

    Márlen

  2. Oi, Lidu, bom dia!!! Amo seus textos, mas não consigo curtir. Toda vez me pede e-mail e senha e quando os coloco o sistema informa que há erro! Paciência! Saiba que recebo suas mensagens e leio com prazer seus textos! E isso é o que importa, não é mesmo! Beijos carinhosos, Bebé

  3. Querida múltipla escritora, que à vontade circula em todos as possibilidades da escrita, parabéns por mais este texto. Obrigada por sempre nos instigar ao conhecimento de nós mesmos, como busca de uma vida uma próxima possível da felicidade. Parabéns, obrigada.Um beijo!

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