Há Livros Intransponíveis?

O que é um livro intransponível?

É todo livro célebre que gostaríamos de ler, mas desistimos da leitura, por falta de disposição para ultrapassar as centenas de páginas que nos separam do seu ponto final.

E a razão para que os leitores rotulem essas obras de intransponíveis é a crença de que um livro volumoso é necessariamente tedioso.

É como se o livro extenso ao invés de anunciar uma grande obra proporcionada pela genialidade do autor, antecipasse sua incapacidade.

Como alterar esse preconceito?

Talvez a lembrança de autores, cujos livros são frequentemente tachados de intransponíveis, ajude-nos a enxergar os malefícios de relegar essas obras ao esquecimento. O estigma de intransponível não poupa ninguém: Cervantes, Dostoievski, Eça de Queirós, Goethe, Guimarães Rosa, Hermann Broch, Homero, Montaigne, Marcel Proust, Ohran Pamuk, Neruda, Somerset Maugham, Thomas Mann, Victor Hugo, Tolstoi, Zola.

Mas, seriam eles as vítimas desse estigma?

Essa lista incompleta dá um panorama do empobrecimento da prática de leitura que os rótulos provocam. Além disso, a evocação de seus nomes pode ajudar a firmar consciência de que as  vítimas reais dessa negação não são os autores, mas nós, os leitores.

De certa forma, essa tendência a isolar os livros de muitas páginas é compreensível. Ler não é ato simples. Exige concentração, esforço, raciocínio. Então, a perspectiva de precisar ler mais de 300 páginas leva muita gente a bater em retirada.

Mesmo escritores consagrados já admitiram dificuldades para transpor a leitura dos livros ‘grandalhões’.

Por exemplo, Ruth Rocha, autora brasileira de clássicos infantis, certa vez, declarou dificuldade para concluir a leitura de A Montanha Mágica, de Thomas Mann.

A propósito, Thomas Mann é autor de dois livros, costumeiramente, apelidados de intransponíveis. Além de A Montanha Mágica, sua outra obra prima, Doutor Fausto com suas mais de 700 páginas também sofre com o estigma.

E ao escritor alemão, Nobel de 1929, juntam-se Leon Tolstói e o seu indefectível Guerra e Paz; Crime e Castigo, O Idiota e Irmãos Karamazov de Fiodor Dostoiévski; A Capital de Eça de Queirós. A lista não termina aqui.

E você? Há algum livro intransponível na sua lista?

Caso haja, a solução é vencer os receios e começar. Tente imaginar a leitura de cada livro como uma moeda de ouro que você acumula no seu tesouro de saberes.

A recompensa é incalculável. Quanto mais um livro é visto como intransponível, provavelmente, mais a sua leitura valerá a pena.

Inicie a primeira página sem pensar na quantidade delas e siga firme até o ponto final. Pense nos benefícios que a leitura trará e como você chegará enriquecido ao ponto final.

Depois, vá escolhendo títulos sem ligar para o número de páginas. Leia sem pressa e data para terminar. Você verá que nunca mais haverá um livro intransponível.

Pelo menos pra você.

Publicado por

Liduina Benigno

Psicóloga, escritora. Parte de inquietações comuns sobre formação profissional e autoaperfeiçoamento humano.

3 comentários em “Há Livros Intransponíveis?”

  1. Querida Lidu, você, uma vez mais, foi perfeita nas palavras. Na medida certa, diagnosticou os (aparentes) problemas com os (literalmente) grandes livros e deu a dica certa: comece a ler. E como sabemos ser esse o conselho certo! Depois que pega, não quer mais largar. Acredito que a linguagem das redes sociais contribua para o desânimo com as longas e profundas obras literárias.

  2. Nossa grande escritora Liduína Benigno Xavier, ler você sempre expande as nossas possibilidades, pela escrita irrepreensível e leve, ao abrir seu leque luminoso e diverso, múltiplo de temas. Obrigada por nos ajudar abrir sempre e sempre portas que você mostra que consideramos fechadas. Com os seus textos você vem, nos entrega as chaves, nos põe para caminhar para a frente, num caminho delicioso que não tem volta. Parabéns pelo seu valioso trabalho. A sociedade agradece, especialmente esta sua humilde leitora e admiradora. Grande beijo,
    Obrigada!
    Jovina Gomes Benígno

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