Os Sebos Abrigam Tesouros

Frequentar livrarias e adquirir livros com cheiro de novidade, saber o que escreve a criatividade dos novos autores ou que clássicos foram reeditados é uma experiência inestimável.

Mas, o prazer de frequentar as livrarias grandes ou pequenas, não exclui o hábito de ir a um sebo qualquer e curtir a companhia de velhos e queridos exemplares.

Há quem diga que frequenta sebos para comprar livros baratos. E esse é realmente um valioso motivo.

Mas, que tal ampliar esse olhar?

Os sebos são abrigos de tesouros com uma atmosfera mágica. Quando entro num sebo, ativo o modo fantasia e aquele mar de livros e o ambiente em volta ganham novos sentidos. Outro dia, visitando uma dessas casas de livros, vi uma escada velha e pisada e, de repente, imaginei uma passagem secreta que me levaria a alguma torre dos castelos típicos das histórias de Tolkien. Saí do lugar com livros incríveis de fantasia, que eu nem sabia existirem.

Pois é, para mim, os sebos são lugares onde livros sobrevivem ao tempo como objetos à disposição do leitor.

Nos sebos, temos acesso a obras indisponíveis no mercado: edições de caráter comemorativo; encadernações peculiares e capas preciosas; edições esgotadas; obras prefaciadas por críticos cuja análise primorosa chancela o seu valor; edições limitadas; obras institucionais não vendáveis; livros de circulação restrita; obras primas de autores esquecidos.

Além desses casos, há um tipo de livro só encontrado nos sebos. Costumo chamá-los de ‘livros biografados’.

São exemplares que trazem testemunhos da interação do leitor, de suas marcas como apreciador de livros. São dedicatórias; anotações; lembretes; símbolos que mapeiam o itinerário de compreensão do leitor;rabiscos que confidenciam emoções; assinalamentos que demarcam desejos e temores,etc.

Essa interação com o conteúdo da obra deixa digitais do gosto literário e das características do leitor que funcionam como verdadeiros registros biográficos e distinguem o exemplar.

Existem também os livros que parecem feitos para os sebos.

As coleções de clássicos e os volumes polpudos que pela gloriosa história foram transformadas em ‘entidades literárias’ são exemplos desse tipo de livro que leva o leitor aficionado a preferir folhas amareladas e datadas pelo uso.

Enfim, frequente as livrarias, mas não abandone o hábito de visitar os sebos. São experiências complementares na formação do leitor.

Publicado por

Liduina Benigno

Psicóloga, escritora. Parte de inquietações comuns sobre formação profissional e autoaperfeiçoamento humano.

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