É Preciso Ler?

Jim_Warren-ma_Warren_Painted_worlds_The_intellect
As ideias não nascem do vazio

‘Eu realmente preciso ler?’

Já ouvi muito essa pergunta. E, pasmem, até de alunos de cursos de pós-graduação.

Certa vez, um rapaz que acabara de concluir a graduação, confessou jamais haver lido um único livro. Perguntado sobre como cumprira a lista de leituras exigidas no vestibular, respondeu-me que havia lido resumos emprestados de uma colega.

O exemplo é desolador quanto às possibilidades de construção de formações profissionais sólidas e confiáveis, mas o fato é que há estudantes que não consideram a leitura, mesmo remotamente, uma atividade necessária.

E o mais angustiante é o fato de tal realidade ser mais corriqueira do que se possa imaginar. Continuar lendo É Preciso Ler?

O que você queria ser?

Sonhar com o futuro é tarefa de sempre
Sonhar com o futuro é tarefa de sempre

O que você quer ser quando crescer?

Que menino ou menina jamais ouviu tal pergunta?

E a pergunta provoca as mais variadas respostas.

As crianças menores querem ser astronautas para ‘brincar na lua’ ou se tornarem pipoqueiros para ‘comer todas as pipocas’. As mais velhas, por sua vez, têm desejos mais pautados no real. Elas querem ser médicos para curarem o mundo e ‘ninguém mais sentir dor’ e há quem deseje se tornar veterinários para ‘cuidar dos bichinhos’.

Entre os jovens, as projeções são mais genéricas e começam a ser realistas. Eles querem trabalhar para ajudar os pais, ter o próprio dinheiro ou ficar ricos. Continuar lendo O que você queria ser?

As leituras que você faz e as leituras que fazem você

 

Leituras que nos formam

É impossível alcançar elevação intelectual prescindindo de leituras pertinentes ao crescimento que desejamos obter, seja em conhecimento ou habilidades.

Razão pela qual é inegável o papel da leitura em todo processo de formação.

Seja para fins de desenvolvimento humano ou no preparo profissional, precisamos de leituras que sedimentem competências cognitivas, sensíveis e práticas.

A questão é que nem toda leitura provoca impactos benéficos e duradouros, daí a importância de, de vez em quando, avaliarmos o emprego do tempo dedicado aos livros. Continuar lendo As leituras que você faz e as leituras que fazem você

Você planeja suas leituras?

Irish artist Brigit Ganley-1909-2002-portrait of her husband Andrew Ganley-jpg
Um roteiro pessoal de leituras

As atividades humanas pedem cada vez mais conhecimento. Tal realidade impõe maciça necessidade de constante atualização

Estamos mergulhados num universo (caótico?) de informações. Há um número infindável de livros, sites e publicações,além de toda a gama de conhecimentos não sistematizados.

Esse cenário faz do planejamento, uma prática cada vez mais indispensável aos distintos segmentos da ação humana e põe a gestão pessoal do conhecimento entre as atividades mais essenciais aos esforços pessoais e coletivos de formação profissional.

Se conversássemos com os leitores mais assíduos, perceberíamos que eles costumam seguir um itinerário de leituras.

Eles sabem de que leituras precisam. Muitos fazem planilhas para planejamento e controle de estudos e leituras. Mas de forma geral, a maioria dos grandes leitores têm uma pauta mínima sobre o que precisam ler em determinado período.

Uma pauta de leitura é uma relação previamente elaborada dos livros e textos (em ambiente físico ou virtual) que, na visão do próprio leitor, devem ser lidos em certo espaço de tempo, conforme fins e critérios definidos.

O leitor pode estar buscando aprendizagem especializada, formação geral, amadurecimento intelectual ou apreciação estética. Independente dos objetivos é impossível alcançá-los, prescindindo de uma jornada de leituras.

Outro aspecto que impõe a necessidade da definição prévia de um roteiro pessoal de leituras é a enorme variedade de lançamentos editoriais e o aumento da oferta de livros, seja em livrarias, sites de e-books, seja por meio de bibliotecas públicas, acadêmicas e sebos.

Algumas atividades exigem mais planejamento de leituras a realizar do que outras.

Exemplos? Os especialistas, cujas atividades profissionais exigem o acúmulo e sistematização contínua de informações em determinada área, costumam planejar com atenção e seguir um cronograma do que precisam ler. Na maioria dos casos, são leituras de cunho técnico-profissional que se confundem com atividades de estudo.

Outro grupo que precisa definir um percurso de leituras a realizar, conforme seus fins e estilos literários são os escritores. Ninguém pensa no vazio. Quem escreve precisa de um background de conhecimentos que o torne apto a explorar diferentes assuntos e hábil na forma de abordá-los.

Além desses fatores, há outro que evidencia a relevância de planejar o que se vai ler. A leitura é uma interlocução. Ao ler, tomamos conhecimento de ideias do autor (uma ideia puxa outra) que o remete a outros autores, ideias, livros e interesses. E esta cadeia só aumenta na medida em que nos tornamos leitores mais assíduos.

Um exemplo? Quem leu a Eneida, do poeta Virgílio, possivelmente vai querer ler A Morte de Virgílio, de Hermann Broch.

Planejar leituras, entretanto, é um método de gestão do conhecimento e não uma escravidão. O leitor é sempre livre para estabelecer o que vai ler e até se vai ler algo ou não. Por tudo isso, uma pauta de leitura não deve ser fixa e imutável. É importante ir acrescentando ou cortando títulos. Somente, assim, o planejamento será fiel ao itinerário de leituras que o leitor precisa realizar.

As atividades das diferentes áreas assimilam cada vez mais conhecimento e impõem maciça necessidade de constante atualização.

O itinerário de leituras não deve ser um sacrifício. Se alguém, por algum motivo, enxerga o ato de ler como dolorosa obrigação,é bom dar uma parada e pensar no sentido e utilidade que a leitura tem para si mesmo.

É possível exercitar a rebelião. Afinal, rebelar-se contra regras que podem nos aprisionar é um caminho de reflexão. E Nietzsche já dizia: ‘A nobreza do escravo é a rebelião’.

Mas, a rebelião do leitor já é assunto para outro ensaio.

Leituras como exercícios de liberdade
Exercícios de disciplina intelectual

Você tem uma lista secreta de livros?

Uma lista para a pauta... livros para a pauta …

Quando interrogados sobre os livros prediletos, é comum revelarmos a lista que deixará no ouvinte, a melhor impressão quanto ao nível da qualidade de nossas escolhas como leitor. A situação é similar ao processo de divulgação de fotos pessoais, escolhemos as que  revelam os melhores ângulos.

Não há nada de errado quanto às duas situações. Em relação aos livros, apenas vamos passar uma imagem um pouco incompleta quanto ao tipo de leitura que realizamos. Mas, é uma questão pessoal.

O próprio Freud admitiu que a lista que forneceu como sendo de seus livros favoritos, na realidade, era composta por autores que ele considerava esplêndidos, mas não continha, necessariamente, as obras que lhe deixaram as mais fortes lembranças.

Ainda segundo o psicanalista vienense, se partisse do critério da agradabilidade, talvez aquela relação fosse alterada para incluir Emile Zola, Gomperz e Mark Twain, além de outros. Fica evidente que Freud não tinha muito do que lamentar da qualidade de sua lista, digamos ‘secreta’.

Mas, para os ‘simples mortais comedores de letras’ como eu, a história não é bem assim. Admito que quando sabatinada sobre preferências, também sou  seletiva. Costumo declarar as leituras às quais atribuo alto valor literário, grande poder informativo ou pelo inestimável valor humano do seu conteúdo.

Percebo que na lista não aparecem livros que me arrebataram pelo tipo de leitura fácil e prazerosa. Talvez devido a certa responsabilidade quanto às influências que posso imprimir nos outros, excluo, até injustamente, algumas experiências de leitura.

Assim, muitas vezes, deixo de declarar o quanto senti prazer, por exemplo, ao ler: O Perfume  de Patrick Suskind; A Cidadela de autoria de A. J. Cronin; O Vale das Bonecas de Jackeline Susann; Servidão Humana de Somerset Maugham, A Boa Terra de Pearl S. Buck e Pássaros Feridos de Colleen McCullough, entre outros inesquecíveis pela forma que prenderam minha atenção, sem esforço e com muito prazer.

Esses títulos, realmente, produziram em mim, grande arrebatamento e fluxo confortável de leitura. Puro deleite de leitor que buscava apenas, momentos de evasão.

O que motivou essa reflexão é certa inquietação que sinto quanto à estreiteza de critérios, na seleção de leituras, que muitas vezes impomos a nós e aos outros. Mas, o valor da leitura, não está apenas no livro em si, está também nas emoções e impressões que nos provoca.

Por isso, mesmo quando nossa pauta de leitura estiver atrasada ou com grandes lacunas, não devemos nos privar de, de vez em quando, nos lambuzarmos com uma leitura deliciosa que faça tremer a alma, sorrir da graça solta ou nos deixe bisbilhotar uma história frívola sem muito peso dramático ou valor literário.

É como pegar uma panela de deliciosos brigadeiros e, de vez em quando, fugir da dieta de pão integral e hortaliças. Vale a pena abandonar a atenção ao ímã dessas leituras. Deixar-se levar por obras que proporcionam momentos de  intimidade com  autores que adoram seduzir e inebriar.

Victoria de Henri Fantin-Latour Livros para as pausas…